Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda o minuto de cinza
se despertas a ave magoada
que se queda na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoada
se eras tu quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo a folha rasgada na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto
8 comentários:
Olá Eva, passei para pôr a leitura em dia e desejar um bom fim-de-semana.
Pergunto apenas uma « qualquer tolice indecifrável ».
Também eu sou esquivo.
Gosto muito do Mia Couto, mas não conhecia este poema. É lindissimo, como todas as tuas escolhas neste blog. Um xi-coração cheio de saudades!
belo
..pergunta.me...
jocas maradas
Há coisas que não se perguntam...
belo poema e bonito espaço o teu, Eva.
Bonito...
Mia Couto no seu melhor.
Um abraço.
Sem palavras.... Lindo!
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