10.11.06

Pergunta-me

 


Pergunta-me

se ainda és o meu fogo

se acendes ainda o minuto de cinza

se despertas a ave magoada

que se queda na árvore do meu sangue

Pergunta-me

se o vento não traz nada

se o vento tudo arrasta

se na quietude do lago repousaram a fúria

e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me

se te voltei a encontrar

de todas as vezes que me detive

junto das pontes enevoada

se eras tu quem eu via

na infinita dispersão do meu ser

se eras tu que reunias pedaços do meu poema

reconstruindo a folha rasgada na minha mão descrente

Qualquer coisa

pergunta-me qualquer coisa

uma tolice um mistério indecifrável

simplesmente

para que eu saiba

que queres ainda saber

para que mesmo sem te responder

saibas o que te quero dizer

Mia Couto

8 comentários:

Anónimo disse...

Olá Eva, passei para pôr a leitura em dia e desejar um bom fim-de-semana.

Anónimo disse...

Pergunto apenas uma « qualquer tolice indecifrável ».

Também eu sou esquivo.

Anónimo disse...

Gosto muito do Mia Couto, mas não conhecia este poema. É lindissimo, como todas as tuas escolhas neste blog. Um xi-coração cheio de saudades!

Su disse...

belo
..pergunta.me...
jocas maradas

Luis Eme disse...

Há coisas que não se perguntam...
belo poema e bonito espaço o teu, Eva.

DarkMorgana disse...

Bonito...

Tozé Franco disse...

Mia Couto no seu melhor.
Um abraço.

Angel_Ariel disse...

Sem palavras.... Lindo!

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