Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da língua.

Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumo das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.

Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.

Corpo para beber até ao fim –
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.


Eugénio de Andrade
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1 comentários:

Anónimo disse...

Olá Eva,
Eugénio de Andrade é sempre especialíssimo. Recebi de prenda um livro dele este Natal.
Para si que não vi , antes de festas, vai este poema que me ofereceu a minha filha Sara e que sei também lhe dirá muito . Feliz 2006 :
Quando o teu filho...
Te procurar com o olhar - olhá-o.
Te estender os braços -abraça-o.
Te procurar com a boca-beija-o.
Te quiser falar - escuta-o.
Se sentir desamparado - ampara-o.
Se sentir só - acompanha-o.
Te pedir para o deixares só- afasta-te.
Te pedir para voltar - recebe-o.
Se sentir triste- consola-o.
Estiver a trabalhar-anima-o.
Estiver desanimado -encoraja-o .
Perder a esperança- FALA-LHE DE DEUS.Arnaldo RousKy.

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