Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo - o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstracta. O presente não é um dado imediato da consciência.
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.

Jorge Luís Borges, in "Ensaio: O Tempo"
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4 comentários:

Anónimo disse...

O tempo é uma ilusão. Não há passado, presente nem futuro. Pois, o presente é o futuro do passado, assim como o presente será passado no futuro.
Porquê preocupar-se com o passado se já não existe? porquê preocupar-se com o futuro, se será também passado? Porquê preocupar-se com o presente, se também foi futuro e será também passado???....
Tudo não passa de uma ilusão.
João Luis Gonçalves

Anónimo disse...

"O que faz andar na estrada?
É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. é para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro"
fala de Tuahir

Anónimo disse...

Mto interessante. Gostei de ler

Anónimo disse...

Só acha que o presente não tem duração quem nunca viu um pôr do sol no deserto do Namibe ou as lágrimas de dôr da mulher que amamos. É então que o presente é eterno e passado e futuro são meras sombras

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