No banco do jardim, como numa sala de espera, pergunta se alguém virá para a buscar, antes que a noite chegue.
E eu, do outro lado do tempo, abro o caderno para lhe escrever: «Um dia saberás o que disseram todas as cartas que não abriste; e perante o vazio a que a tua vida se resume, responderás que pouco importa o tempo, quando a eternidade
te cobriu com a sua noite, há muito

Depois, vou ao correio.
«Esqueceu-se de pôr a morada», diz-me o empregado.
«Não sei para quem escrevo», digo-lhe.
E meto na caixa o envelope em branco para que alguém, um dia, o descubra num fundo de posta restante. E ao ler o que lhe escrevi, talvez se sente num banco de jardim, pouco antes da noite, pensando no que é a vida em que todo o futuro se fixa nesse instante que não chegou a ser.

Nuno Júdice

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