Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.

Eugénio de Andrade

4 comentários:

Gi disse...

Uma solidão materializada, com vida só pode ser muito sentida.
Como pode um sensação de vazio
ser preenchida com palavras tão belas?

Umm beijinho

GTL disse...

Adoro Eugénio de Andrade, obrigada.
MDB

Luis Eme disse...

Não é muito saudável deitarmo-nos ao lado da nossa solidão, a não ser que tenhamos o talento do Eugénio...

Apache disse...

Grande escolha, como é habitual.
Bela imagem, também.

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