Há muito que não se encontravam. Os dias corriam uns atrás dos outros na exacta proporção em que o desejo ia aumentando.
Desde sempre pouco tinham dito um ao outro. Conversas banais, de tempos e lugares, pequenas confidências sem grande importância e muitos jogos de sedução. Jogos por jogos, em percursos em que se iam espantando um ao outro, mas que recusavam parar. Talvez pela vaidade, pelo orgulho ou simplesmente porque quiseram deixar correr ou quem sabe, porque lhes apeteceu.
Conheciam-se profundamente. Não de alma, mas de corpo. Exploravam-se, explorando-se um ao outro minuciosamente. Os tempos e os lugares não eram compatíveis. As vidas também não. Restos do passado e vestígios do presente tolhiam voos e atitudes diferentes.
Em tempos quebraram o frágil laço que os unia. Desentendimentos, dúvidas e muitos medos. Não havia mais para dar. Nem sequer vontade de tomar decisões, nem decisões a tomar. As realidades não se coadunavam. E o medo, esse, impedia de viver plenamente os breves momentos que tinham.
O frágil laço pouco tempo durou quebrado. Batia-se o fim da primavera e o tímido começo do verão. Eram ainda aqueles tempos do ano em que os desejos mais afloram à pele e à mente. Sem grandes conversas e divagações foi mesmo a pele que falou mais alto.
A ela fascinava-a esse turbilhão de novas sensações. Novas umas, velhas outras, mas ainda assim, todas elas novas de tão esquecidas estavam. O que o fez avançar novamente é ainda uma ponta da história que ficou por contar.
O que interessa agora é contar, que nesta estranha ligação, há um fio que vai unindo algumas partes da história. E esse fio é o mar. Talvez esse fio seja até levemente obsessivo. Por ele perderam tempos que não tinham. E por ele, também, já tiveram alguns momentos de profunda felicidade, mesmo que muito breves.
Mas como já foi contado lá para o início, o tempo não se coaduna, nem nunca se coadunou com os desejos. As portas se saída foram-se abrindo nos sonhos, e foi aí que se encontraram.
E esse encontro começou quando a mão esquerda dele tocou ao de leve na sua anca nua. Ops! Um pequeno estremecimento! A direita lentamente avançou pelo interior da coxa, enquanto duas línguas se encontravam, ora em luta desesperada, ora languidamente, como se o tempo guardasse a espera de todos os momentos desejados.
Mas ela, numa das suas fugas, procura-lhe o pescoço e aquela pequena linha de que tanto gosta de mordiscar. As mãos, essas, entretanto perderam o controle e percorrem agora os corpos que se enleiam e contorcem a cada toque. E nesse percorrer constante uma língua encontra-se com os mamilos dela, que por antecipação ficaram rijos de prazer. E pelo ventre a percorre enquanto lhe agarra as nádegas que puxa com firmeza contra si. E nessa descida vai encontrar-se com os pêlos curtos do seu púbis e é aí que se retém. A sua língua acaricia-os agora e a cada toque ela arqueia-se de prazer.
Pedem-se mais. Desejam-se. O suor inunda-os e os gemidos aumentam de intensidade. Ele penetra-a agora. Lenta mas ritmadamente, a um ritmo que cresce ao sabor dos desejo. Um silvo agora. Cada vez mais agudo e mais e mais.
- Que foi isto? – pergunta-se.
- O despertador! PORRA! Logo agora!
Mas se bem se lembram os tempos e os lugares não eram compatíveis e este encontro deu-se no mundo dos sonhos.
22 comentários:
Sonho, cheio de emoção e prazer!
Pena o despertador ter tocado e feito a realidade acordar!
beijinho
bigada por teres passado lá no meu blog
fascinante...
fantastico mesmo...
Eu também acho que o Fernando Pinho tem razão. Não sentes assim um formigueiro a percorrer-te a caneta? (Já viste como é difícil o formigueiro percorrer as teclas do computador?) Aproveita agora, que estás de mudança. As mudanças de casa atraiem outras mudanças. Porque não experimentas mais essa, a de te sentares todos os dias uma hora à secretária e deixares as mãos escrever o que lhes vier à cabeça? Vais ver que é bom. Um beijo enorme.
Posso oferecer-te um texto? Estou certo de que encontrarás a melhor imagem para ele.
De Ingeborg Bachmann
Sob um estranho céu
Sombras rosas
Sombras
Sobre uma estranha terra
entre rosas e sombras
numa estranha água
a minha sombra
trad. do alemão de Fernando Camilo Ferreira
O pragmatismo do conteudo do texto,deixa-nos pensativos... mas de modo algum poderemos fugir do lado animal não castrado que todos nós transportamos...
E este texto foi escrito por uma pessoa, que há umas postagens atrás dizia sentir alguma insegurança no que escrevia!!!
Faço minhas (mais uma vez) as palavras do Fernando Pinho!
LIVRO!
LIVRO!
LIVRO!
Fantástico...
Parabéns!!!!
;)
Pergunto se o despertador não poderia já fazer parte da realidade?
Será que os sonhos são assim tão impossíveis?
É preciso haver um despertador em cada sonho?
Continua a sonhar, mas sobretudo luta para que o sonho seja uma realidade.
Seguramente que haverá quem esteja disposto a ajudar-te nesse objectivo...
Gostei muito do texto!
O "gajo" que inventou os despertadores foi o mesmo que inventou os telemóveis, não foi?... Tocam sempre ambos quando não devem...
Boa tarde, Eva
Concordo com a opinião expressa por "Fernando Pinho" : Porque não um livro ? Quem escreve como a Eva não tem nada a recear...a "pena" não tem segredos para si.
Um beijinho
LIVRA!
Malvados despertadores....
MAS... OLHE QUE PARA SONHO...É MUITÍSSIMO REAL!!!
livro..
LIvro
LIVRO
Pois é, os despertadores têm essa mania de tocar ás horas mais incovenientes.
Espectacular a tua inspiração, não a deixes secar.
Partilho a opinião geral, que tanta inspiração já merecia um livro.
Pior que o despertador só se fosse um marido armado...
isso é que foi um fim de semana...
foi para aliviar o desgosto da vitória do outro...ke grande cavacada...
Ninguém sonha assim desta maneira. Se fosse sonho não haveria despertador. E havendo-o, de que ia adiantar? Não é só a voragem que corre nestes dias de alma salgada e tempetuosa. Correm os impetos de estertores épicos!!! Uma loucura, ou um devaneio. Quiçá como o vento norte. Penetra-nos até á alma e depois larga-nos.
Bajuladores e sonhadores. Porra. Eu, mesmo despertador queria estar lá. E estar é sublime, supremo, quilhões de milhões de vezes superiores ao ser. Estar vale tudo. saber estar.
"quilhões de milhões..." Isto são confusões ou palavrões?...
Lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo.
Adorei!!!
Livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro,livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro, livro!
A rapariga é teimosa!
Oh amiga, tira tempo para ti e dedica-te a escrever. Essa tua mania de não queres ser "uma segunda Margarida Rebelo Pinto", não faz sentido. Acredita nisso.
E já agora conta-me lá um segredo: quem é?
Como defino este post da Eva:
Um misto de "escrita criativa", "engenho para a ficção", dom "provocatório" e habilidade para "jogar com a sensualidade alheia"; enfim, uma verdadeira "intrusão" na "sexualidade" de cada um de nós.
Toca a "hackear" este Blog senão a menina ainda nos presenteia com um "Best Seller" em breve e não nos liga nenhuma, de nariz empinado.
Agora, mais a sério:
Excelente performance, tenho orgulho em ter-te como colega e amiga!
Bem haja a tecnologia dos Blogs que nos trazem talentos com a facilidade de um toque "mágico".
Temos livro então - será "O Blogue de Eva"?
Terá nas entrelinhas, qualquer coincidência com a realidade é pura ficção?
Vá, Eva, oxalá o despertador tenha um som agradável, para acordares bem disposta, ao lado de com quem queres acordar.
Lindo!!!!!!
Ficamos à espera do livro!
Não desistas nunca de escrever, especialmente porque te faz sentir bem.
Nós agradecemos o teu dom!
Amei. Aproveita o "turbilhão de novas sensações" e avança, mulher!! Quais "dúvidas", quais "medos"!! E da próxima, desliga o despertador ;) Beijos
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