(do baú)


Dois corpos lado a lado amanheceram além naquele quarto virado a sul.
O som da chuva forte a bater nas vidraças tinha-os acordado.
Por entre os lençóis ainda a cheirar a sono procuravam-se ambos.
Movimentos milimétricos levaram-nos à procura um do outro e encontraram-se a meio num abraço apertado.
As mãos ainda estremunhadas correram as geografias que já conheciam de cor. Das bocas só saía o silêncio dos beijos com sabor a mim e a ti trocados de dentro de nós.
- Bom dia. É bom acordar contigo - sussurrei-lhe ao ouvido.
Com a mão ao de leve tocou-me os lábios como que a empurrar novamente as palavras de encontro à alma.
E foi aí que se quedaram, enquanto as mãos percorriam os corpos que deslizavam um pelo outro, ora atraindo-se, ora afastando-se, como se de ímans de pólos iguais se tratassem.
Os mistérios do corpo saiam da pele e materializavam-se em gotas de suor. Feéricas e efémeras sorvidas logo ali por aquele fogo que os consumia.
As vozes sustinham-se, abafadas com o som dos gemidos, que se tornaram mais intensos com o correr dos momentos. Lá fora tudo era imenso, mas ali era tudo.
E os corpos explodiram então como o som das brasas quando sentem água fria a bater-lhe.
Olhámo-nos e trocamos as palavras que todos os amantes trocam quando se saciam.
Então ele levantou-se e saiu.
Do lado de fora trouxe um jarro azul que pousou nas minhas costas, enquanto me beijava a nuca.
Um jarro azul já tingido do branco original pela cor da esperança de outro acordar igual, explicou-me então.

2 comentários:

Alien David Sousa disse...

Bem...vou ligar ao Alien macho. Depois de termos passado a semana do carnaval juntinhos afastados de Lisboa, ao ler este texto vieram-me tantas "cenas" à memória.

Saudações alienígenas :)

Alien David Sousa disse...

Bem me parecia que já tinha lido este texto lol

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